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numa tal doutrina, o menor fio de devaneios que pudesse nos
conduzir da polaridade magnética à polaridade dos gêneros mas-
culino e feminino.
Fazemos esta observação para acentuar a separação, que esta-
belecíamos como necessária no fim do capítulo anterior, entre
o racionalismo do pensamento científico e uma meditação filosó-
fica dos valores estetizantes da natureza humana.
26. Citado por Fritz Giese, Der romantische Charakter, 1919. t. I, p. 298.
DEVANEIOS SOBRE Õ DEVANEIO 87
Mas, uma vez afastada qualquer referência a polaridades
físicas, o problema da polaridade psicológica que tanto ocupou
os românticos permanece. O ser humano, considerado tanto
em sua realidade profunda como em sua forte tensão de vir-a-
ser, é um ente dividido, um ente que se divide novamente mal
se entrega por um instante a uma ilusão de unidade. Ele se
divide e depois se reúne. Sobre o tema de animus e anima, se
chegasse ao extremo da divisão, se tornaria um simulacro de
homem. Tais simulacros existem: há homens e mulheres que
são demasiado homens há homens e mulheres que são dema-
siado mulheres. A boa natuieza tende a eliminar esses excessos
em proveito do comércio íntimo, numa mesma alma, das potên-
cias de animus e de anima.
Sem dúvida os fenômenos da polaridade que a psicologia
das profundezas designa pela dialética animus-anima são com-
plexos. Um filósofo afastado dos conhecimentos fisiológicos
precisos não está bem preparado para medir no psiquismo cau-
salidades orgânicas bastante definidas. Mas, tendo rompido
com as realidades físicas, ele se vê tentado a romper com as
realidades fisiológicas. De qualquer modo, um aspecto do pro-
blema lhe pertence: o das polaridades idealizantes. Se impeli-
mos o filósofo sonhador à polêmica, ele declara: os valores idea-
lizantes não têm causa. A idealização não pertence ao reino
da causalidade.
Lembremos então que nos propomos uma tarefa precisa
no presente livro: estudar o devaneio idealizante, um devaneio
que coloca na alma de um sonhador valores humanos, uma
comunhão sonhada de animus e de anima, os dois princípios
do ser integral.
Para esses estudos do devaneio idealizante, o filósofo já
não está limitado aos seus próprios sonhos. Todo o roman-
tismo, uma vez desembaraçado de seu ocultismo, de sua magia,
de sua pesada cosmicidade, pode ser revivido como um huma-
nismo do amor idealizado. Se pudéssemos também destacá-lo
de sua história, se pudéssemos tomá-lo em sua vida exuberante
e transportá-lo para uma vida idealizada de hoje, reconhece-
ríamos que ele conserva uma ação psíquica sempre disponível.
As páginas, tão ricas e tão profundas, que Wilhelm von Hum-
boldt consagra aos problemas da diferença dos gêneros valori-
88 A POÉTICA DO DEVANEIO
zam uma diferença dos gênios do masculino e do feminino. Elas
nos ajudam a definir os seres pelo seu apogeu2'. Assim, Humboldt
nos faz apreender a ação profunda dos gêneros masculino e femi-
nino sobre as obras. É mister, em nossos devaneios de leitor,
aceitar as parcialidades masculinas ou femininas do escritor. Em
se tratando do homem que produz obras poéticas, não existe
gênero neutro. Sem dúvida, ao lermos como sonhador, em sua atua-
lidade restituída de devaneios, textos românticos, comprazemo-
nos numa utopia de leitura. Tratamos a literatura como um valor
absoluto. Destacamos o ato literário não somente do seu contexto
histórico como ainda do seu contexto de psicologia corrente. Um
livro é sempre, para nós, uma emergência acima da vida cotidia-
na. Um livro é a vida exprimida, portanto um aumento da vida.
Em nossa utopia de leitura abandonamos, assim, as preocu-
pações do ofício de biógrafo, as determinações usuais do psicó-
logo, determinações necessariamente formuladas a partir do ho-
mem mediano. E, naturalmente, não nos parece útil, a propósito
dos problemas da idealização em animus e em anima, evocar aspec-
tos fisiológicos. As obras estão aí para justificar nossas investi-
gações no sentido da idealidade. Uma explicação hormonal de
Séraphitüs-Séraphita ou de Pelléas et Mélisande seria uma farsa. Te-
mos, pois, o direito de considerar as obras poéticas como realida-
des humanas efetivas. Naquelas que mencionamos existe a reali-
zação de uma idealização efetiva em animus e em anima.
O devaneio idealizante corre num sentido único, de níveis
em níveis, cada vez mais elevados. Um leitor que siga mal a
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